ASMA E BRONQUITE CRÔNICA EM GATOS
Asma e bronquite crônica são doenças inflamatórias multifatoriais do trato respiratório posterior. Os gatos são a única espécie que apresentam semelhança da síndrome de asmacom humanos.
Pode se dizer que a asma é uma broncoconstrição reversível, enquanto a bronquite crônica remodela as vias respiratórias de forma irreversível, causando obstrução
ao fluxo de ar. Na bronquite crônica, ocorrem episódios de tosse diários, enquanto na asma estes ocorrem esporadicamente nos momentos de crise asmática.
Índice
Epidemiologia
Não existe predisposição sexual, a idade pode variar de meses de idade até animais senis, mas animais de meia idade são os mais afetados, os Siameses são os mais afetados. Estima-se que 1% da população felina doméstica tenha asma.
Etiopatogenia
A inflamação e a hiper-reatividade da asma e da bronquite crônica possuem características multifatoriais. O aumento da reatividade de vias respiratórias posteriores, da produção de muco, ou ambos, pode ocorrer devido à estimulação antigênica ou alérgica, provocando broncoconstrição e hipertrofia da musculatura lisa da parede brônquica por inflamação.
Fatores estimulantes inespecíficos inalantes que causem irritação, alérgenos como fumaças, granulados sanitários, produtos de limpeza,perfumes, antígenos de grama e/ou pó, poluição, bem como parasitários, foram descritos como causadores de sintomatologia clínica em gatos.
Acredita-se que a asma felina seja uma reação de hipersensibilidade tipo I, ativada pela inalação de alérgenos. Estes alérgenos ativam uma resposta T-helper 2 , liberando interleucinas implicadas na resposta alérgica, causando o recrutamento de eosinófilos e sua degranulação. Este processo gera lesão e destruição do revestimento epitelial das vias respiratórias posteriores e, consequentemente, aumento da produção de muco pelas glândulas mucosas e hipertrofia/hiperplasia da musculatura lisa das vias respiratórias, assim como alterações enfisematosas distais no parênquima pulmonar, acarretando em constrição das vias respiratórias.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos do paciente associados aos resultados dos exames laboratoriais e a resposta ao tratamento com corticóide. Faz-se necessária a exclusão de outras causas conhecidas de alterações do TRP, principalmente causas parasitárias (vermes pulmonares e dirofilariose) ou outras causas infecciosas, além de derrames pleurais,cardiomiopatias e neoplasias.
Sinais clínicos: ASMA E BRONQUITE
Os sinais clínicos são variáveis de cada paciente, tosse, sibilo, respiração ruidosa, dispneia e taquipneia são os sinais clínicos que mais levam o paciente ao médico
veterinário. Também podem apresentar posição ortopneica e cianose.
Exame físico:
Durante a auscultação pulmonar, pode se auscultar sons expiratórios aumentados (ásperos ou sibilantes). A fase expiratória apresenta-se prolongada em função
da broncoconstrição em pacientes asmáticos.
Exames complementares:
Radiografia torácica: A radiografia torácica auxilia no diagnóstico de alterações de vias respiratórias posteriores, no entanto, não fornece um diagnóstico definitivo de causa de asma e bronquite crônica em gatos, sendo um exame de triagem. Padrões bronquial, broncointersticial e intersticial são comumente encontrados, além de hiperinflação pulmonar, atelectasia do lobo médio direito e aerofagia. O maior acometimento do lobo pulmonar médio direito e a sua atelectasia se dá pelo acúmulo de muco nos brônquios, uma vez que esta é a única via aérea que tem sua orientação dorsoventral e sofre, com isso, os efeitos da gravidade.
Os padrões bronquiais são decorrentes de infiltrado líquido ou celular no interior das paredes brônquicas e no tecido conjuntivo peribrônquico e perivascular do pulmão. Os pacientes acometidos apresentam aumento da radiodensidade das paredes brônquicas, resultando em imagens de “trilhos de trem” nos brônquios, quando observados longitudinalmente, e de “rosquinhas” nos brônquios em cortes transversos. Este padrão pode auxiliar o clínico na determinação da etiologia, contudo, a ausência não descarta a doença, pois gatos podem ter achados radiográficos mistos ou mesmo nenhuma anormalidade e, o oposto também se aplica, uma vez que gatos podem apresentar alterações radiográficas acentuadas e ser assintomáticos ou sintomáticos leve quanto a manifestações respiratórias. Mais comumente, padrões brônquicos ou broncointersticial tem alta indicação de doenças crônicas.
Lavado bronco alveolar: A principal vantagem em realizar o lavado bronco alveolar é descartar outros possíveis diagnósticos diferenciais como, parasitoses, infecções bacterianas ou fúngicas ou até mesmo neoplasias. O LBA também é um forte aliado no diagnóstico destas duas patologias pois nos permite ter acesso a amostras celulares e acelulares do interstício e dos alvéolos.
A partir desta amostra é realizado citologia e cultura, onde estes achados vão nos auxiliar no diagnóstico. Em pacientes saudáveis, estima-se que a contagem de eosinófilos pode chegar a até 25%. E 25% dos pacientes também podem apresentar cultura positiva devido a bactérias alojadas no trato respiratório inferior, porém em casos de doença brônquica estas acabam superando a quantidade de células inflamatórias.
Em casos de asma felina, sugere-se que a contagem de eosinófilos seja predominante, e na bronquite crônica a contagem de neutrófilos é predominante, porém também pode ser mista. Quando há eosinófilos em excesso é importante descartar doenças parasitárias como diagnóstico diferencial, e em casos de neutrófilos aumentados é importante descartar infecções e doenças inflamatórias, sendo de grande importância a realização de cultura e antibiograma.
Vale ressaltar que estes achados em citologia não tem grande acurácia, pois ainda faltam estudos avaliando melhor estas alterações, mas podem ser utilizadas como ferramenta auxiliar. Em casos de bronquite também é comum a presença de bactérias que perpetuam os sinais clínicos de asma, devida a presença de muco. Dentre as bactérias as mais comuns são Bordetella bronchiseptica, Streptococcus spp, Staphylococcus spp., Escherichia coli, Pasteurella spp., Klebsiella spp., Proteus spp., Pseudomonas spp. e Mycoplasma spp. e são associadas a pneumonia, broncopneumonia e bronquite bacteriana.
Hemograma:
O hemograma pode apresentar eosinofilia em aproximadamente 20% dos gatos, mas sem correlação com a eosinofilia das vias aéreas. Outras causas alérgicas, parasitas intestinais, pulmonares ou ectoparasitas também induzem a eosinofilia, não sendo este um achado específico em pacientes com asma, porém pode corroborar para o diagnóstico. O perfil bioquímico dificilmente fornece informações relevantes quanto a
doenças pulmonares, mas pode auxiliar na identificação de outras doenças sistêmicas que podem causar tosse crônica.
Tratamento:
O tratamento de ambas as doenças consiste em controlar a inflamação das vias aéreas e prevenir/reduzir os episódios de dificuldade respiratória. A educação e conscientização dos tutores é um dos pilares do tratamento, onde devem ser orientados com relação a limpeza do ambiente com aspirador de pó e produtos específicos de limpeza, uso de granulados sanitários que não formam poeira e também orientá-los ao não uso de incenso.
Tutores fumantes devem ser orientados a não fumarem no mesmo ambiente que os animais se possível sempre fora de casa. Os antiinflamatórios esteroidais são os fármacos utilizados para controlar a
inflamação brônquica.
A administração de prednisolona 1mg/kg – 2mg/kg a cada 12 horas deve ser realizada por via oral durante 5 a 10 dias. Após este período é recomendado que diminua gradualmente a dose até que chegue a 0,5 mg/kg a cada 48 horas. É importante deixar claro ao tutor os possíveis efeitos colaterais dos corticosteróides, como ganho de peso, dislipidemia, diabetes mellitus, polidipsia, poliúria e etc… Uma saída para evitar o uso de corticóides por tempo prolongado seria a utilização deles na forma inalatória, uma vez que desta maneira apresentam boa resposta anti inflamatória no tecido desejado e minimização dos seus efeitos colaterais sistêmicos.
Ofármaco mais utilizado por essa via é a fluticasona (125 a 250 mcg a cada 12 horas conforme a gravidade do caso). O uso de corticosteroides injetáveis de longa ação (acetato de metilprednisolona, 10,0 a 20 mg/gato, por via intramuscular, a cada duas a oito semanas) deve ser reservado a pacientes onde outros métodos de administração do fármaco não seja possível.
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